A universalidade da graça

Introdução

Inimizade e preconceito são marcas do pecado presentes no relacionamento entre seres humanos. Tanto a inimizade como o preconceito são fruto das diferenças que existem entre as pessoas individualmente, entre as raças, entre as nacionalidades, entre os modos de viver. A diferença de cor, raça, gênero, classe social, nacionalidade e religião, por causa do pecado, provoca inimizade e preconceito entre as pessoas. Essas atitudes da inimizade e preconceito negam a igualdade essencial entre os seres humanos pois todas as pessoas, sem exceção, independentemente da cor, raça, credo, língua, gênero, classe social, foram criadas por Deus à Sua imagem e semelhança. As diferenças entre as pessoas não anulam a sua origem comum no amor divino criador. A universalidade da graça de Deus é a resposta divina ao pecado humano da inimizade e do preconceito, e é sobre a graça divina que estudaremos neste dia.

1. A vocação missionária de Paulo (1-13)

O texto de Efésios 3 é muito interessante. O verso 1 mostra que Paulo iria escrever uma oração, mas mudou de idéia e escreveu (v. 2-13) sobre a graça universal e missionária de Deus. Somente no v. 14 ele retoma a idéia inicial e escreve uma oração lindíssima sobre o amor de Deus (15-21) – repare como os v. 1 e 14 começam da mesma forma: “Por esta causa eu, Paulo …”

Na primeira parte do capítulo Paulo fala de sua vocação missionária: chamado pela graça de Deus (v. 7), sua missão era anunciar o Evangelho aos gentios – aos povos não-judeus – a fim de que a universalidade da graça de Deus se tornasse uma realidade na história humana (v. 8). O Evangelho de Jesus Cristo é o mistério de Deus (v. 3-6), mistério esse que consiste no fato de que Deus salva igualmente judeus e gentios pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo. A morte e ressurreição de Jesus abrem um novo caminho para a salvação de toda a humanidade. Todas as pessoas têm igual acesso à salvação: mediante o compromisso pessoal de seguir a Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador. As diferenças existentes na humanidade são todas anuladas pela graça de Deus. Do ponto de vista da salvação, todas as pessoas são iguais. Todas são pecadora, todas são indignas da salvação. Mas todas também são alvo do amor e graça de Deus. Todas são perdoadas mediante o sacrifício de Jesus Cristo na cruz e sua ressurreição dos mortos. Todas são salvas pela graça, e devem se entregar a Deus, mediante a fé em Jesus Cristo.

Salvas pela graça de Deus, recebida mediante a fé, as pessoas formam a Igreja, o povo de Deus que recebe a graça de anunciar o Evangelho da graça de Deus. E, mediante a ação da Igreja, a universalidade da graça de Deus alcança a sua plenitude, pois até os principados e potestades passam a conhecer a sabedoria divina que tem muitas formas e dimensões (v. 10). A sabedoria de Deus se manifestou na história humana através das muitas vezes e muitas maneiras pelas quais Deus falou aos seres humanos (cf. Hb 1.1-2), e teve seu clímax na encarnação de Jesus Cristo, a revelação definitiva de Deus a toda a sua criação. Deus é sábio para salvar toda a sua criação por sua imensa graça! A toda a criação é ofertada a salvação pela graça, e cada ser criado terá de responder a Deus, através da fé, a fim de ser alcançado por essa graça salvífica. A graça é universal, ou seja, se estende a toda a criação; mas não é automática – é preciso receber a graça de Deus mediante a fé, mediante o compromisso de entregar a vida ao Senhor Jesus, e segui-Lo incondicionalmente até o fim da vida.

2. A oração missionária de Paulo (14-21)

Na segunda parte do capítulo (v. 14-21) Paulo, maravilhado pela revelação do mistério divino, ora a Deus, pedindo que o Seu amor venha a ser compreendido por todas as pessoas que crêem em Jesus Cristo. Nessa oração, podemos perceber a eficácia da graça de Deus, que transforma a vida das pessoas, e capacita cada seguidor e seguidora de Jesus a viver uma vida digna de Jesus Cristo, autêntica e poderosa no Espírito Santo (v. 16); uma vida cheia de alegria e confiança, pois estamos todos seguros nas mãos amorosas de Deus (v. 17), e recebemos a capacidade de compreender esse amor – que transcende todo entendimento humano! Vejam que maravilha: o amor incompreensível de Deus pode ser conhecido por quem recebeu a Sua graça. Aprendemos com Paulo que receber a graça de Deus é receber o amor de Deus, que não tem limites, que não muda, não diminui por causa dos pecados que cometemos; não aumenta por causa das boas obras que fazemos. O amor de Deus é infinito e constante. O amor de Deus nos faz participantes da salvação e do poder de Deus – por graça e amor podemos viver em plenitude (v. 19). Por isso podemos cantar, louvando a Deus, “que segurança, sou de Jesus!” e fazer de nossa vida um constante tributo de gratidão e louvor a Deus (v. 20-21).

3. O desafio missionário da graça universal de Deus

Diante da maravilha da graça universal de Deus, somos convocados ao louvor e ao serviço a Deus. A graça divina, que nos acolhe e nos transforma a vida de pecado em vida de justiça e vitória, é um permanente convite de Deus para adorar e servir. Não é possível meditar, falar sobre a graça de Deus, e não percebermos que a graça que recebemos é graça para ser compartilhada. A graça é universal, e para que sua universalidade seja eficaz, é necessário que todas as pessoas que receberam essa graça, dêem testemunho dela aos que ainda não a conhecem. Graça recebida deve ser graça repartida. Graça acolhida em fé deve ser graça transmitida aos que ainda não têm fé. A universalidade da graça de Deus é a fonte da missão universal da Igreja.

Assim como Paulo entendeu que a graça de Deus que o salvou, também o vocacionou para a pregação do Evangelho (v. 7-8), também nós precisamos compreender que a graça divina nos salva e nos convoca à missão. E quantas vezes deixamos de cumprir a vocação missionária da Igreja, porque não conseguimos superar as inimizades e preconceitos causados pelo pecado? Uma forma errada de receber a graça de Deus é aquela que nos torna orgulhosos da nossa própria salvação, e nos faz ver as pessoas fora da Igreja como pessoas más, ímpias, indignas do Evangelho. Esse é um jeito sutil e perigoso de preconceito. Sutil, porque de fato as pessoas sem Cristo são ímpias e indignas da salvação. Perigoso, porque é exatamente contra essa impiedade e indignidade que a graça de Deus se manifesta – e nós somos testemunhas dessa graça, porque também a recebemos em nossa impiedade e pecado (Ef 2.1-5). Exatamente porque as pessoas sem Cristo são ímpias é que devemos amá-las com o mesmo amor com que Cristo nos amou (Jo 13.33), e com o mesmo amor com que Deus amou o mundo (Jo 3.16). A graça de Deus nos salvou e a mesma graça de Deus faz de cada um de nós uma testemunha de Jesus Cristo para toda a criação divina!

Outro preconceito que deve ser superado pelo amor de Deus em nós, é o preconceito contra a natureza. Boa parte dos cristãos não consegue perceber que a missão da Igreja não se dirige apenas aos seres humanos, mas a toda a criação – a todos os seres vivos, sejam animais, sejam vegetais, sejam angelicais (Ef 3,10)! A vocação divina para o ser humano, na criação, foi a de “cuidar e lavrar o jardim” (Gn 2.15) e, por causa do pecado do ser humano, a natureza foi amaldiçoada (Gn 3.17). Agora, a criação toda geme, clama a Deus esperando a sua redenção (Rm 8.19-22). Portanto, a graça de Deus nos faz viver em amor para com toda a criação, cuidando de todos os seres vivos, e não só dos seres humanos. Experimentar a graça de Deus nos torna capazes de amar todos os seres vivos, e de cuidar do bem-estar de toda a criação divina. Responsabilidade ecológica não é “coisa de nova era”, não é “coisa de radicais”. Cuidar do jardim de Deus é expressão do amor e da graça de Deus em nós! Damos testemunho de nossa fé em Jesus Cristo através de nosso louvor a Deus, através de nossa pregação do Evangelho, através de nosso amor ao próximo, e través de nosso amor a todos os seres vivos da criação divina. Cuidar da natureza faz parte da nossa vocação, pois a graça de Deus é universal!

Conclusão

Recebemos a graça de Deus, por isso temos vida e vida em abundância. Que privilégio! Que alegria! Fomos alcançados pela graça divina universal. Fomos salvos. Fomos agraciados com os dons e com o fruto do Espírito Santo. Fomos presenteados com o amor divino e com a plenitude de vida em Deus (Ef 3.14-21). Por isso, podemos agradecer e adorar a Deus a cada instante de nossas vidas. Por isso, podemos anunciar o Evangelho de Jesus Cristo a todas as pessoas e, assim, tornar conhecida a sabedoria de Deus também aos seres angelicais. Por isso, podemos cuidar amorosamente de todos os seres vivos de Deus, de toda a natureza – o jardim no qual Deus nos colocou para trabalhar e cuidar.

Perguntas para reflexão

1. Como podemos manifestar a graça universal de Deus a todos os povos e pessoas?

2. Como podemos manifestar, em nosso dia-a-dia, o cuidado gracioso da natureza – a nossa responsabilidade ecológica?

3. Deus nos ama profundamente, assim, podemos viver em segurança, pois Ele não nos abandonará. Que expressões concretas de louvor e adoração podemos realizar?

fonte: http://www.ftl.org.br/verartigo.asp?id=20

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