Paulo de Tarso e a educação cristã primitiva

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O cristianismo primitivo transitou por várias instâncias, optando por uma oposição não
violenta ao poder estabelecido, obedecendo apenas ao seu Deus, buscando nessas
esferas fundamentos para formação da igreja nascente. O primeiro a assumir a função
pedagógica cristã foi Paulo de Tarso que fez dos ensinamentos de Jesus um modelo a
ser seguido. A educação cristã converteu-se no plano sobrenatural na busca da
idealização do homem na figura de Cristo e no plano material rompe com os valores
vigentes daquela sociedade, cumprindo com sua função transformadora, dando origem à
Paidéia cristã.
Paulo nasceu em Tarso, na região da Cilícia (atual Turquia), cidade portuária, com mais ou menos
300.000 habitantes, importante centro cultural e comercial. Nasceu numa família judaica onde recebeu
sua formação básica (ler, escrever e as leis de Deus) e sua formação superior obtece em Jerusalém.

Originária da Palestina, a doutrina cristã e a atividade apostólica tiveram que se
confrontar com três ambientes estritamente ligados entre si, mesmo onde estão em
concorrência e/ou conflito: o judaico – palestino propriamente dito; o judaico –
helenista, que mesmo na “diáspora” gravita em torno de Jerusalém, encontrando-se e, às
vezes, conflitando com os judeus autóctones e o pagão (ou “étnico” “gentílico”)
representado sobretudo pelos comerciantes, soldados romanos, mas também pelas
populações semitas circunvizinhas.
A Palestina, por outro lado, é só uma pequena porção de um conjunto bem mais vasto,
isto é, o Império Romano, formado às vezes em condições inesperadas, recolhendo a
herança dos etruscos, itálicos e italiotas da magna Grécia, superando o imperialismo
comercial cartaginês, vencendo e assimilando as várias monarquias helenistas do
mediterrâneo oriental ( Pierini, 1998, p.50).
Gestado nesse ambiente, restou ao cristianismo primitivo transitar nessas instâncias,
fazendo opção por uma via de oposição não violenta ao poder estabelecido. O que não
dispensou a firme posição, entre a submissão às atividades terrenas ou à sua doutrina,
não vacilaram em obedecer a seu Deus, para eles, fonte de toda vida.
Essa orientação não obstacularizou que a educação buscasse nessas esferas fundamentos
básicos necessários aos conteúdos destinados à sua formação. Entretanto, esse processo
teve um caráter complexo, difícil e trabalhoso, porém pródigo, pois os resultados
advindos desse encontro subsidiaram a fundamentação inicial da Igreja nascente.
No referente ao enfrentamento entre o cristianismo primitivo e a cultura clássica, o de
maior destaque foi com a filosofia, por representar para os cristãos um perigo para a sua
doutrina (Pereira Melo, 2000, p. 160-162).
A este respeito Paulo de Tarso se dirige aos tessalonicenses:
(…) Vede que ninguém vos engane por meio da filosofia inútil e enganadora,
segundo a tradição dos homens, segundo os elementos do mundo, e não segundo
Cristo (…) (1 Tes 2,8).
O apóstolo foi além, quando procedeu à negação do conhecimento produzido pela
cultura greco-romana, pois para a nova doutrina, todo conhecimento provinha de Deus.
(…) Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Deus não tornou loucura a
sabedoria deste século? (…) o mundo não conheceu a Deus por meio da sabedoria
(…) (1 Cor 1, 20-22).
A partir desse raciocínio, a filosofia enquanto uso metódico da razão e da investigação
representava uma poderosa rival, que merecia estudo cuidadoso.
A medida que rompia com o “saber” humano, a preocupação fundamental e decisiva do
cristão, era chegar feliz ao término da sua caminhada, ou seja, a Deus, motivo de a
Pessoa de Cristo constituir-se no modelo de conduta a ser seguido ( Pereira Melo, 2000,
p. 163).
(…) até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do
Filho de Deus, o estado do Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de
Cristo (…) (Ef. 4, 13).
Com essa orientação, aumenta a distancia entre o cristianismo e a cultura pagã, ao
propor um estilo de vida que pressupunha uma radical subversão da concepção dos
valores vigentes até aquele momento histórico.
Apesar da proposta – também pedagógica – doutrinária do cristianismo, Cristo não
chegou a expor os fundamentos teóricos da sua “pedagogia”. O primeiro a assumir essa
missão foi Paulo de Tarso, que fez dos ensinamentos de Jesus um fato pedagógico
universal.
(…) não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem
mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus (…) (Gal. 3,28).
Sob o magistério Paulino, a educação passava pela imitação de Cristo, visto ele ter
vindo, segundo o apóstolo, para abrir o coração do homem e ensinar a viver em
santidade de vida, levando-o a renunciar ao modo de viver do mundo.
Assim concebida a educação cristã diferenciou-se, por sua natureza, por seus objetivos e
por seus conteúdos, do modelo educacional clássico, a qual, para Paulo, fora criada pelo
próprio Cristo ( Pereira Melo, 2001, p.100).
(…) E vós, pois, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os
na disciplina e na correção do Senhor (Ef. 6,4).
Segundo São Paulo, à medida que imitava Cristo, o homem obtinha uma identificação
com a sua Pessoa, motivo da educação cristã ter-se organizado para atingir esse
objetivo.
(…) meus filhos, por quem sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja
formado em vós (…) (GÁL 4,19).
Em suma, com a pedagogia paulina, a educação cristã converteu-se,
operativamente, num processo que visava obter a plenitude humana e sobrenatural.
Nesse sentido, para o cristão, a educação transformou-se no caminho da
santificação, ao instrumentalizar o homem a seguir o exemplo e a doutrina de Cristo,
num processo de transformação no próprio Cristo ( Pereira Melo, 2001, p.101),
conforme exortação paulina.
(…) finalmente, meus irmãos, vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus que,
tendo ouvido de nós como deveis viver para agradar a Deus, e assim já viveis:
todavia, deveis ainda progredir. Pois conheceis as instruções que vos demos da
parte do Senhor Jesus.
Porquanto, é esta a vontade de Deus: a vossa santificação ( 1Tes.4,1-3).
Se no plano sobrenatural busca-se a idealização do homem na figura de Cristo, no plano
material, rompe-se com a prática grega de que trabalhar com as próprias mãos era dever
apenas dos escravos e considerado impróprio para um cidadão ou homem livre. Paulo
coloca a todos uma forma nova de proceder nas questões do trabalho:
(…) que seja para vocês uma questão de honra viver em paz, ocupando-se das suas
próprias coisas e trabalhando com as próprias mãos, conforme recomendamos.
Assim vocês levarão uma vida honrada aos olhos dos estranhos e não passarão
mais necessidades de coisa alguma (…) (1Ts4, 11-12).
A educação cristã assim posta, direciona a formação do novo homem, propondo um
estilo de vida que subverte os valores vigentes daquela sociedade considerada por Paulo
como corrompida:
(…) a fim de serdes irrepreensíveis e sinceros(…), sem culpa, no meio de uma
nação depravada e corrompida, onde vós brilhais como astros do mundo (…) (Fil.
2,15).
Portanto a educação cristã cumpre a função transformadora, articulando a união da
Paidéia grega com a religião cristã dando origem a uma Paidéia cristã, uma nova ordem
social, onde a educação só é possível em Cristo e por meio d’Ele.

REFERÊNCIAS
Bíblia de Jerusalém. São Paulo:Paulus, 2002.
LENTSMAN, Iakov. A origem do cristianismo. Tradução: Felipe Jarro. Portugal: Ed.
Caminho, 1988.
MEEKS, Wayne. A. Os primeiros cristãos urbanos: o mundo social do apóstolo Paulo.
Tradução: I. F. L. Ferreira. São Paulo: Ed. Paulinas, 1992.
MESTERS, Carlos. Paulo apóstolo. Um trabalhador que anuncia o evangelho. São
Paulo:Paulus, 1991.
NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na antiguidade cristã: o
pensamento educacional dos mestres e escritores cristãos no fim do mundo antigo. São
Paulo: EPU:Ed. Universidade de São Paulo, 1978.
PEREIRA MELO, José Joaquim. “Aspectos doutrinários e a antropologia pedagógica
do cristianismo primitivo”. Anais do Seminário de Pesquisa do P.P.E., Maringá:UEM,
2000, p. 160-166.
____. A educação paleo-cristã. Revista do Departamento de Teoria e Prática da
Educação. Maringá:UEM, vol.4 – n.9 – setembro/2001.
PIERINI, Franco. A idade antiga. Curso de história da igreja. Vol.1, São Paulo:Paulus,
1998.

Autores:  Miriam M.B. Miguel e José Joaquim Pereira Melo

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