A singularidade de uma autoridade

Há certos personagens na Bíblia, que têm uma característica interessante: Não conhecemos os seus nomes, suas famílias, mas os seus encontros com Cristo foram tão significativos que mereceram um registro que fica até os nossos dias. É o caso da mulher que ungiu os pés de Cristo; a mulher siro-fenícia; a mulher que tinha um fluxo de sangue; o paralítico no tanque de betesda e o caso de um Centurião que foi até Cristo para pedir por um servo.

Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião, implorando: Senhor, o meu criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo horrivelmente. Jesus lhe disse: Eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz. Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, disse Jesus ao centurião: Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E, naquela mesma hora, o servo foi curado.

Queremos meditar nesse texto sobre a peculiaridade, a singularidade desse Centurião no seu encontro com Cristo.

1. Por ser quem era.

A primeira coisa que queremos destacar é quem era aquele homem.

Ele era romano, portanto um dominador. À época dos fatos, Roma dominava toda aquela região. Dessa forma, a atitude de um romano para com qualquer pessoa de outra nação era de supremacia, de alguém que vê os outros como inferiores.

Ele era um centurião. O Centurião era o comandante de uma das divisões da infantaria romana composta de cem homens. Ele era uma das autoridades da cidade. Na cidade de Cafarnaum, havia uma centúria da qual ele era o comandante. O que fazia com que fosse conhecido de todos na cidade.

No contexto daquela cidade o seu poder era muito grande.

2. Pela sua atitude.

A segunda coisa que queremos destacar é a sua atitude.

Vimos acima, quem era aquele homem. Era romano e acostumado a ter uma atitude de superioridade sobre as pessoas dos outros povos. Ele era um militar. Talvez tivesse alcançado o posto pela bravura nas batalhas que havia lutado pelo império. Não é improvável que ao longo da sua vida tivesse visto muitos morrerem ao seu lado e tivesse matado outros por força do seu ofício. Era uma autoridade naquela cidade, talvez a maior delas. Acostumado a dar ordens como ele mesmo diz, porém há algo que se destacar na sua atitude.

Ele veio implorar. Um romano, dirigir-se a um judeu para implorar, não era algo comum de se ver. A sua atitude é humilde, submissa e respeitosa. Ele estava acostumado a dar ordens e ser obedecido. Ele estava acostumado a ver as pessoas sendo-lhe submissas. Ele tinha naquela cidade poder de vida e de morte sobre muitos. Mas, ao se aproximar de Cristo ele chega implorando.

A atitude do Centurião é um emblema, um exemplo de como nós devemos nos aproximar de Cristo. Quem somos nós para decretar, mandar, determinar, dizer o que Cristo deve fazer. Quem é o Senhor? Quem é o Servo?

Ele veio pedir por um servo. É conhecido por muitos, que na sociedade daquela época o escravo era tido como coisa e não como gente e isso chegava a ponto do Senhor poder tirar até mesmo a vida do seu servo sem que isso constituísse um crime pois seria o mesmo que matar um animal. A grandeza do Centurião não estava apenas em que ele veio implorar o que já era uma atitude quase impensável, mas, ele veio pedir por um servo. Fosse por um filho, uma filha, a esposa, a mãe ou o pai até que seria compreensível, mas, pedir por um servo, isso sim foi além do que se poderia esperar.

Essa atitude do Centurião, traz para nós nos dias de hoje de um individualismo e egoísmo crescente uma lição a respeito do nosso papel como intercessores e como responsáveis pelo destino dos outros.

Você ora, pela empregada que trabalha na sua casa? Você ora pelos seus colegas de trabalho? Você ora pelos seus vizinhos? Ou você está cantando: “Eu quero que Deus me abençoe aqui na terra e que tudo mais vá pro inferno!”

Ele dirigiu-se a Cristo como Senhor. Ele estava acostumado como todas as autoridades a ser tratado de Senhor. Somente quando havia visita de outras autoridades romanas aquela cidade é que tinha a necessidade de adotar um tratamento de submissão. Normalmente, ele dava as ordens ele é que era o senhor. Mas, agora, o Centurião que tinha sob seu comando, cem soldados, se curva diante de Cristo, diante da autoridade de um homem sem soldados, sem armas, sem quartel, mas com uma palavra cujo poder criou o universo e que trouxe à existência as coisas que não eram e que vieram a existir.

Ele se julgou indigno de receber a Cristo em sua casa. Aquele homem era acostumado a ver as portas se abrirem para ele, de ver as pessoas se curvando diante dele. Aonde ele chegasse, chegava representando a força e o poder do império romano. Agora, diante de Cristo, reconhece, não sou digno que entres na minha casa. Se ele representava o império romano, com Cristo estava presente o Reino de Deus aqui na terra.

3. Pela fé que demonstrou.

A terceira coisa que queremos ressaltar foi a fé que demonstrou.

Nesse episódio, Cristo faz um contraste da fé daquele homem com a fé dos judeus. Enquanto os escribas estavam continuamente contestando a autoridade e negando os milagres que Cristo realizava, aquele homem, um gentio havia demonstrado uma fé digna de elogios.

Ele Reconheceu a Suprema autoridade de Cristo: basta uma palavra sua. Não era preciso nem um gesto, nem um ritual. Bastava uma palavra. Tão somente uma palavra de Cristo era, é e sempre será suficiente, para fazer o impossível acontecer.

Reconheceu a suprema majestade de Cristo: Não sou digno de que entres na minha casa. Enquanto os fariseus, desrespeitavam a Cristo, acusando-o de blasfêmia, procurando denegrir a sua imagem, tentando coloca-lo em uma situação de descrédito diante do povo; aquele Centurião reconhece: não sou digno que entre na minha casa.

Reconheceu o supremo domínio de Cristo sobre todas as coisas: Pois também sou homem sujeito à autoridade. Isto é sou homem que tem autoridade. Há um episódio, mais à frente que os judeus adversários de Cristo, o questionam sobre a sua autoridade: “Tendo Jesus chegado ao templo, estando já ensinando, acercaram-se dele os principais sacerdotes e os anciãos do povo, perguntando: Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu essa autoridade?” (Mateus 21.23). Enquanto os judeus assim agiam com relação a Cristo, aquele centurião, um gentio, reconhece a sua suprema autoridade sobre todas as coisas existentes, inclusive sobre as enfermidades.

A sua fé se evidência no fato de que ele creu: que Cristo podia curar qualquer enfermidade, na sua atitude não havia dúvidas do tipo; será que ele poderia curar essa enfermidade. Ele creu que Cristo podia curar a qualquer hora. Não havia também na sua atitude a dúvida de que naquele momento mesmo, Cristo tinha o poder de curar o seu servo. Ele cria que Cristo não precisaria orar mais, jejuar mais, ou fazer qualquer outra coisa para que viesse a ter poder para curar. Ele cria que Cristo tinha poder permanente e inextinguível de curar de agir com poder. Ele creu que Cristo podia curar a qualquer distância. Ele não ficou pensando como Marta, irmã de Lázaro, “se estivesses aqui…”. Não, ele cria que para Cristo, não importava a distância. Nem todo o universo é limite para o seu poder. Ele creu que Cristo podia curar em qualquer circunstância. No seu coração ele não titubeou pensando: o caso é muito grave, será que ele ainda pode fazer alguma coisa. O servo estava de cama, sofrendo horrivelmente, mas sua abordagem e no seu pedido não se percebe a dúvida, mas certeza de que Cristo tinha poder para repreender aquela enfermidade.

4. Pelo reconhecimento que recebeu de Cristo.

Finalmente, queremos destacar o reconhecimento que ele recebeu de Cristo.

O que se destaca no texto não apenas o pedido do Centurião e a cura que Jesus Cristo realizou, mas o reconhecimento que a sua fé mereceu da parte de Jesus Cristo.

O texto nos diz que Cristo ficou admirado de sua fé e expressou essa sua admiração com uma das expressões mais elogiosas da Bíblia: “Nem mesmo em Israel encontrei uma fé como esta.”

O reconhecimento de Jesus Cristo também está expresso na sua resposta ao Centurião. Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. Ao ler esse texto eu fico a pensar nesse momento: se aquilo que pedíssemos a Jesus em oração tivesse como resposta, seja feito conforme a tua fé o que aconteceria? O que a nossa fé na oração seria capaz de promover? Quando você ora, você ora com fé ou você ora mecanicamente apenas para cumprir. Se nesse momento, a vida de alguém dependesse da sua fé essa pessoa continuaria viva ou morreria. A resposta de Cristo àquele Centurião manifestou a grande fé no coração daquele homem. O texto nos diz que naquela mesma hora o servo foi curado.

Quais as lições que esse texto nos traz? Não podemos perder de vista que este texto traz no seu conteúdo um contraste da fé dos judeus com a fé de um gentio. A expressão de Cristo é de surpresa e ao mesmo tempo de desapontamento: Nem mesmo em Israel achei uma fé como esta.

Isto nos traz alguns questionamentos a respeito da nossa fé. A nossa fé é superior á dos mulçumanos capazes de morrer por Alá. A nossa fé é maior do que a dos monges budistas, capazes de renunciar a todos os bens por causa de Buda. A nossa fé é maior do que a das pessoas que confiam cegamente na força dos astros para dirigir os seus destinos?

Precisamos aprender com aquele Centurião que buscou diretamente em Cristo a solução para os problemas; Que se apresentou diante de Jesus Cristo em favor de outro.

Precisamos aprender, também, com a atitude daquele Centurião que veio se humilhando diante poderosa mão de Jesus, reconhecendo: a limitação de sua autoridade, a temporalidade de sua autoridade, a territorialidade de sua autoridade.

Mas, por outro lado, reconhecendo: a suprema autoridade de Cristo: o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, o Soberano dos reis da terra, o todo poderoso; a eternidade da autoridade de Cristo. Ele é o Alfa e Ômega, o princípio e o fim; a universalidade de sua autoridade. Ele é o Senhor dos céus e da terra, de todo o universo. Todo joelho se dobrará, toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor.

Há uma lenda que diz que em Roma um cidadão teve dois filhos: um era poeta, pensador, filósofo. O outro, um soldado. Um dia, porém, alguém se aproxima daquele homem e diz que um deles diria algo que ficaria registrado para todo o sempre. O pai sempre achava que seria o seu filho poeta e filósofo. Mas lhe foi revelado que seria o soldado. O seu filho soldado, ficou a pensar o que é que ele haveria de dizer de tão importante que iria ficar para posteridade. Tempos depois, é destacado para uma província romana para comandar uma centúria romana na Palestina numa cidade chamada Carfanaum. Quando o seu servo adoece gravemente ele resolve procurar um jovem rabi que estava ensinando naquela região e quando se aproxima daquele jovem rabi diz: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz.

A Bíblia não diz o nome do Centurião, onde nasceu, quem eram seus pais, contudo o que fez ficou para a eternidade.

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