A razão de ser da igreja

A razão de ser da igreja é o nosso foco. A igreja de Jesus Cristo tem passado por maus bocados no Brasil. Faz tempo que a mídia tem levantado questões de profunda importância especialmente para o seguimento evangélico. Esse seguimento do cristianismo outrora conhecido como protestante precisa dar respostas aos tantos questionamentos levantados e que essas respostas não sejam, de preferência, apologéticas. O propósito desse texto é demonstrar que a igreja ainda tem um importante papel a cumprir no mundo. É lugar comum afirmar que a igreja tem uma origem divina. Jesus Cristo afirmou: “…edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Isto significa dizer que ele assumiu algumas incumbências em relação à igreja. A primeira é a da edificação. Trás a ideia de construir uma casa, erigir uma edificação. Metaforicamente significa promover o crescimento na sabedoria, afeição, graça, virtude e santidade cristã. A segunda tarefa descrita acima é a de proteger a igreja dos ataques externos, especialmente das forças malignas. Isto significa que as forças do mal jamais superarão a força da igreja. No dizer de Cristo isto é uma impossibilidade devido ao fato de que ele foi o construtor do edifício. Se as forças do mal lograrem destruir a igreja, logo o próprio Cristo seria desacreditado e ridicularizado por todos. A igreja não se defende dos ataques do inimigo, pois Cristo assumiu a posição de defensor da mesma. Outro texto que nos ajuda e muito a entender o relacionamento de Cristo com a igreja vem do Apóstolo Paulo em Efésios capítulo cinco. Ali aprendemos que Cristo é a cabeça, o salvador e senhor da igreja, que ele a ama profundamente e por ela sacrificou-se. Essa narrativa de Paulo exemplifica o alto grau de compromisso de Cristo com o seu povo, a igreja, colocando-a em elevado patamar. A igreja não é uma organização qualquer e de valor irrisório. Em outro lugar aprendemos que esta igreja foi edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2.20-21). Paulo revela que a igreja tem uma herança especial. Ela não surgiu de algum evento corriqueiro ou de um fato ordinário. A igreja tem nas suas bases uma história de lutas e vitórias nas pessoas dos apóstolos e dos profetas e de todos quantos seguiram nesse caminho. Isso não deve ser negligenciado e muito menos subestimado pela igreja contemporânea. A missão da igreja Ter uma origem divina e estar sob o controle e orientação de Cristo é muito importante, mas a igreja não se resume a esse relacionamento espiritual. Ela, enquanto peregrina na terra, tem uma missão a cumprir – a missão do seu senhor e salvador.

A missão última

– No Antigo Testamento o profeta Habacuque faz uma profunda revelação da vontade de Deus: “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Hb 2.14). – O profeta Isaías é o que menciona mais vezes a glória do Senhor em suas profecias. Ele afirma algo semelhante a Habacuque: “A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse” (Is 40.5). A glória de Deus é a sua honra, riqueza, esplendor, dignidade, reputação e reverência. – Podemos dizer então o desejo último de Deus é que as gentes de todas as partes do mundo conheçam quem ele é e que ele seja glorificado no meio dos povos. Os autores do Antigo Testamento tinham a consciência da glória de Deus e que essa glória não estava limitada ao povo de Israel. Na verdade, Deus incumbiu Israel de revelar essa glória aos povos da terra. Glorificar a Deus é a missão última do povo de Deus. Assim entenderam os antigos como no Catecismo de Fé de Westminster na sua primeira pergunta: Qual é o fim principal do homem [mulher]? Resposta: O fim principal do homem [mulher] é glorificar a Deus (Rm 11.36; 1Co 10.31), e gozá-lo para sempre (Sl 73.24-26; Jo 17.22,24). Glorificar a Deus em tudo e em todas as ações fará com que as nossas motivações estejam focadas e nos seus devidos lugares. Glorificar a Deus é a nossa missão última por outra razão, isto é, na eternidade Deus continuará recebendo honras e glórias, conforme descrito no livro do Apocalipse. É no desempenho da nossa missão, que Deus é glorificado. Jesus Cristo ensinou: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8). Em outro lugar entendo que por fruto Jesus tinha em mente as boas obras quando disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). É o primeiro de todos os mandamentos. É o mais importante.

A missão penúltima

Enquanto no mundo a igreja é convocada a participar do projeto redentor de Deus, a missio Dei. A igreja tem uma missão de serviço bem explicitada pelo apóstolo Paulo na carta aos Gálatas: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.9-10). Fazer o bem, ou seja, aquilo que é honrável, bom e belo de ser ver. Devemos fazer as boas obras em duas direções. Primeiro, ensina Paulo, aos da família da fé. Creio que Paulo quer nos mostrar aqui que se a igreja não se preocupa e nem cuida do seu próprio povo, como cuidará dos de fora? Portanto, os membros da comunidade devem cuidar uns dos outros. Em segundo lugar, Paulo diz que as boas obras devem ser direcionadas a todos, ou seja, aos que não pertencem a comunidade. O próximo pode estar dentro da comunidade ou fora dela. O que importa é se queremos ser instrumentos de Deus nesse projeto de resgatar a dignidade do outro. É nesse resgate da vida para Deus que a igreja desenvolve a sua missão penúltima. Todos os ministérios da igreja, como por exemplo, evangelização, discipulado, aconselhamento, diaconia, missões, instrução, etc., tem data de validade: a consumação dos séculos. Na eternidade nenhum desses ministérios será necessário. O grande dilema é o pouco entendimento desse fato. Grande parte da liderança eclesiástica faz dos ministérios penúltimos a sua razão de ser, ou seja, o objetivo último. Quando, por exemplo, fazer a igreja crescer torna-se a razão de ser da igreja, comete-se um grande equívoco perdendo inclusive o foco da glória de Deus. A igreja ou até mesmo o pastor(a) passam a receber os louvores e os elogios. Pressupõe-se que quando mais louvores uma comunidade recebe, mais gente adere a ela. Outro efeito nefasto dessa inversão da missão é que ao fazer das prioridades penúltimas a última, todos os meios usados passam a ser santificados. No afã de fazer a igreja ser a melhor igreja da cidade perde-se muitas vezes o respeito e a ética evangélica no proselitismo exagerado. Comete-se injustiça com outros cristãos que também estão inseridos da missão. Os recursos da comunidade são basicamente usados para o bem estar dos membros, ou seja, investimento constante no som, nos bancos da igreja, no estacionamento, no ar condicionado, nos jantares e congressos em hotéis de luxo, etc. Os recursos são para agradar os domésticos da fé. Pouco sobra para a prática das boas obras para os de fora.

Os atores da missão

Os principais atores no desempenho da missão são os chamados leigos. Ou seja, a imensa maioria de pessoas redimidas por Cristo e que fazem parte do seu povo na terra. A missão é feita dentro da igreja, mas principalmente fora dos seus portões. Precisamos, todavia, recuperar o significado da missão para o outro. Quem vai realizar essa missão? Certamente não são os clérigos, ou os profissionais que receberam a função de instruir o corpo de Cristo. Lamentavelmente, decorridos alguns séculos da Reforma protestante, ainda não vencemos a dicotomia clérigo-leigo. Os clérigos se vêem como as pessoas mais importantes da comunidade e em contra partida os leigos se vêem como incapazes de realizar qualquer coisa para Deus. Dois universos que raramente se cruzam. Insistir no ministério profissional com o objetivo de transformar a realidade será perda de tempo e recursos. Os clérigos são importantes no papel a eles confiado, qual seja, instruir e lançar o povo de Deus ao mundo em missão. Os clérigos existem para servir o povo e não o contrário. Quando percebemos que a pompa e a circunstância, outrora criticadas no catolicismo romano, fazem parte da igreja evangélica causando inclusive orgulho, podemos tão somente lamentar.

A arena da missão

O palco da missão é o mundo. Alias foi o próprio Jesus quem nos deixou essa informação: “O campo é o mundo”. É no mundo que o teatro da vida se desenrola. Cada esfera da sociedade necessita receber o poder do evangelho e ser tocada com as demandas de Cristo. Quem pode fazer isso? Naturalmente os milhares de cristãos Já mencionei anteriormente quando o próprio Jesus afirma: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Veja que o Pai será glorificado se essas boas obras forem percebidas. Por isso é importante que essas boas obras sejam feitas em nome de Deus e para a glória de Deus.

O resultado final da caminhada da igreja no mundo

Retorno ao texto de Paulo aos Efésios na sua bela descrição do relacionamento entre Cristo e sua igreja. Depois de enumerar todas as coisas que Cristo fez pela igreja, o apóstolo explicita o propósito do Mestre: “… a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5:26-27). No final dos tempos, na consumação de todas as coisas, essa igreja que andou de forma claudicante pelos caminhos do mundo, finalmente será o Cristo sempre almejou para ela, ou seja, gloriosa, sem mácula, nem ruga, santa e irrepreensível. Olhando para a igreja hoje é quase impossível pensar que ela será isso que descreve Paulo. Cristo é o condutor desse processo e durante toda a história da igreja ele a conduziu porque sabia o resultado final do processo. Creio ser isso que todos nós precisamos ter em mente ao falarmos da igreja. Precisamos ter em mente que a igreja não é hoje o que ela será no fim dos tempos. Precisamos olhar para a igreja com os mesmos olhos de Cristo. Olhos de bondade e compaixão. Ele não se enganou quando escolheu a igreja para ser o seu povo. Autor: Antonio Carlos Barro Visitar: www.ejesus.com.br para mais artigos.

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